4ª Jornada, Boavista vs Amarante, Sábado, 28 de Setembro, 16h00, Estádio do Bessa Séc. XXI

sábado, 24 de outubro de 2009

Artigo sobre o Boavista no "SAPO Desporto"


Em 2001, o Boavista FC erguia a Taça de Campeão Nacional da primeira Liga. Agora, oito anos depois, a equipa de Bessa move-se pelos relvados da II Divisão. O Sapo Desporto mostra o actual estado de espírito de jogadores e treinador.
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Decorria o ano de 2001, o Boavista debatia-se entre as melhores equipas nacionais. Foi nesse ano que se sagrou Campeão Nacional e o plantel axadrezado, comandado por Jaime Pacheco, contava com jogadores como Petit, Ricardo, Frechaut ou Jorge Silva.

Jorge Silva, de 33 anos, ajudou o Boavista a levantar a Taça em 2001 e agora, em 2009, continua a apoiar a formação de Bessa mas nos jogos da II Divisão B. O médio está ciente das dificuldades que o clube atravessa e sabe que os problemas não são alheios aos jogadores, mas procura sempre “ser parte da solução e não do problema”. Jorge Silva confessa mesmo que a actual situação do clube é “uma revolta que invade a todos, incluindo os adeptos”.

“Para isso vamos tentar sempre dignificar ao máximo esta camisola e ganhar todos os jogos. Acreditamos num futuro risonho”, afirmou Jorge Silva confiante.

Mais novo, Carlos Miguel, médio do Boavista, 24 anos, gostaria de ver os axadrezados em “campos maiores”: “Merece jogar na primeira Liga”, acrescentou. Tal como o seu companheiro de equipa, conhece as complicações do clube, mas não será esse o factor que o impeça de jogar todos os dias com ambição e vontade, mesmo actuando na II Divisão. “Ninguém vai morrer se o clube continuar na segunda divisão. Com isto não quero dizer que todo o conjunto desportivo do Boavista ambicione colocar outra vez o clube a jogar em patamares superiores”, disse o jovem médio, deixando um alerta: “O Boavista não pode acabar”.

A dívida financeira do clube quase fez com que não pudesse inscrever jogadores nesta época, impedidos pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, mas esse obstáculo foi ultrapassado e o Boavista pôde jogar, pelo menos, na segunda divisão.

No entanto, e no inicio desta época, os problemas financeiros persistiam e Jorge Madureira, técnico dos axadrezados, lembra que “formou uma equipa em cima do joelho”. “Numa semana formávamos uma equipa mas na seguinte havia jogadores que queriam sair, outros não acreditavam neste projecto. Por isso estes que ficaram são aqueles que acreditaram e, na minha opinião, são os melhores jogadores da II Divisão B”.

Também consciente dos problemas financeiros do Boavista, o técnico, preocupado, acredita que a solução passa por investimento financeiro. “O Boavista é um clube doente, precisa de medicação, tratamento e ajuda. Não o podem enterrar antes de morrer”

Jorge Madureira não quis deixar de realçar o esforço de duas pessoas, muito presentes na ressurreição da instituição: o presidente e presidente adjunto do clube boavisteiro, que “estão aqui todos os dias a dar a cara pelo Boavista. Eles estão sempre à procura de pessoas que ajudem a instituição”.

“O Boavista está vivo mas precisa de ajuda”. Foi esta a mensagem deixada pelo técnico Jorge Madureira, numa voz partilhada por todos os membros axadrezados, que outrora levantaram a Taça de Campeão Nacional da primeira Liga e hoje lutam pela sobrevivência na II Divisão e contra os persistentes problemas financeiros.

Curiosamente, o Boavista encontra-se numa situação semelhante ao de um tabuleiro de xadrez. Por um lado as casas brancas demonstram a vontade e ambição de chegar mais longe, pelo outro, as casas negras correspondem às dívidas e falta de investimento no clube. No Estádio Bessa XXI, ou num jogo de xadrez, a "Torre" movimenta-se numa direcção: em linha recta. Linha essa que jogadores e treinador também querem seguir, rumo à subida de divisão, se possível, ainda esta época.
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Em entrevista ao Sapo Desporto, o presidente do Boavista FC confessou que se não fosse a falência do banco Lehman Brothers o clube poderia ter feito parceria com um grupo árabe e amenizado a dura fase que se atravessa no Bessa. Álvaro Braga Júnior tece ainda duras críticas a Hermínio Loureiro e Vítor Pereira.

Neste momento que tipo de clube é o Boavista?
É um clube que procura recuperar e rejuvenescer, mas onde, também é verdade, ainda encontramos algumas más surpresas. O Boavista está melhor que há uns tempos e o importante é chegar a esta casa todos os dias com um sentimento de que vale a pena. Enquanto estiver esta disponibilidade tudo farei para recuperar a instituição do Boavista.

Todos os membros trabalhadores do Boavista estão felizes?
Sim. Durante algum tempo, é público, sentiram algumas dificuldades, nomeadamente quanto ao atraso de salários. Alguns saíram porque tinham outros projectos, é uma postura legítima, mas os que ficaram acreditaram neste projecto. Eles são um bom exemplo dessa luta contínua, só faz falta quem está.

Como presidente, o que tem feito para receber tanto apoio dos funcionários boavisteiros?
Eu prefiro falar sempre em equipa. Existe, é certo, uma postura muito frontal e verdadeira. Eles estiveram sempre dentro dos assuntos, nomeadamente os jogadores que sempre tiveram uma relação muito aberta comigo e com toda a SAD do Boavista.

Como se viveu o episódio recente da impossibilidade de inscrição de jogadores devido à dívida do Boavista?
Primeiro foi fundamental que a SAD e a Direcção do clube estivessem unidos como sempre estiveram. Foi essencial passar para o exterior uma imagem de querer, de serenidade e optimismo. Nessa altura toda a instituição do Boavista uniu-se e passamos um mau bocado, quase que dava um filme. No final, conseguimos duas parcerias muito importantes que ditaram a salvação do Boavista.

Qual é a dívida do Boavista neste momento?
Deve rondar os 85 milhões de euros, mas ainda temos o Estádio do Bessa que nos dá um certo conforto e tranquilidade. Este vai ser um ano fundamental para a SAD do Boavista. Esperemos que cheguem a nós parceiros ou investidores credíveis para ultrapassar esta situação.

O que falhou afinal neste clube?
Antes de tomar posse como presidente pedi ao presidente do Conselho Fiscal uma auditoria da SAD e descobri, em relação à gestão da antiga direcção, uma situação ruinosa porque os números falam por si, nem sou eu que tenho de dizer, se há mais do que isto compete ao Ministério Público decidir. Hoje estou mais atento às contas do clube.

Existiu um grupo estrangeiro interessado no Boavista. O que correu mal nas negociações?
Já me apareceu de tudo: Revistas, artistas e uma ou duas pessoas de grande seriedade. Infelizmente ao Boavista, nos últimos tempos nada lhe corre bem, e esse grupo que fala foi um grupo árabe. Infelizmente, devido à falência do banco Lehman Brothers, ao qual estavam ligados, deixaram de ter como prioridade a compra de um clube de futebol. É um grupo que tem um clube no seu país e queria ter um na Europa. Funcionaria como uma plataforma de troca de jogadores. Infelizmente o negócio não se concretizou devido unicamente à falência do banco. Aliás, na primeira conversa que tivemos pessoalmente, coloquei desde logo os lugares de membro do conselho de administração à disposição desse grupo mas eles faziam questão que eu continuasse.

Mas se eles tivessem avançado, o Boavista teria fechado negócio?
Sim, com certeza. A SAD do Boavista é única sociedade portuguesa que está aberta a que a maioria do capital possa ser vendida a alguém que venha estrangeiro. A mim não me interessa se gostam de futebol, quero é que acreditem no futebol.

A arbitragem foi o grande responsável pela descida do Boavista à segunda Divisão?
Também, mas não só. É verdade que a instabilidade do clube não ajudou, mas gostava de falar da arbitragem da Liga no seu todo. Julgo que o Dr. Hermínio Loureiro falhou em algumas coisas. A Liga parecia dividida em pequenos quadradinhos, houve incapacidade para abrir um diálogo com os responsáveis pelo fisco para entender as dificuldades e as complicações dos clubes. A Liga Vitalis tem receitas de segunda Liga e despesas de primeira.

Mas queixou-se da arbitragem…
Na arbitragem houve uma enorme arrogância. Esperava muito mais do Vítor pereira, existiu uma incapacidade total de auto-critica. A arbitragem do ano passado foi um desastre e acho que as pessoas quando dirigem um sector que é um desastre devem tirar ilações disso e sair para dar lugar a outros para fazer melhor. Eu não entendo como é que a Liga não é capaz de ter um diálogo com o Ministro das finanças e com os responsáveis do fisco para debater as questões dos clubes. Dentro da Liga há muitos cobardes. Até porque o Boavista tem modalidades para pessoas com mobilidade reduzida e a direcção da Liga deveria dar mais atenção a quem procura ajudar, e não o faz.

Tem medo que o Boavista fique sempre associado a casos de corrupção?
Primeiro, o Boavista foi acusado de coacção e não de corrupção. Segundo, está para se provar que houve essa coacção. Terceiro, a história ainda não acabou e creio que vai ser feita justiça ao Boavista. Já tivemos uma decisão judicial que derruba completamente a tese da comissão disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol. Alguém quis fazer de justiceiro e na altura o elo mais fraco era o Boavista.

Enquanto presidente do Boavista, como seria o seu dia mais feliz?
Certamente seria ver novamente o Boavista na primeira Divisão, que é o lugar onde pertence. Mas agora, na segunda Divisão, temos de fazer um campeonato tranquilo. Comigo o Boavista nunca seria campeão a qualquer preço, isto é, se ser campeão nacional significaria empurrar o clube para uma situação ainda mais complicada, prefiro não o levar.

Existe alguma mensagem para os adeptos do Boavista?
Sim. Primeiro, informar que irá regressar o departamento de formação ao Bessa. Segundo, tinha prometido, para o futebol feminino regressar a casa, a instalação de um relvado sintético e a Global Stadium disponibilizou-se para fornecer, a custo zero, esse relvado de última geração ao Bessa que tanta falta faz no campo de treinos e ainda a construção e arrelvamento de um campo de futebol de sete.

Sentiu algum afastamento dos grupos da cidade do Porto em relação ao Boavista?
Eu espero que o exemplo da parceria do Boavista com esta empresa italiana sirva de exemplo às instituições e empresas portuguesas que podiam e, digo mais, deviam auxiliar o Boavista, sobretudo aquelas que estão sediadas no Porto e tem andando muito divorciadas do Boavista.