4ª Jornada, Boavista vs Amarante, Sábado, 28 de Setembro, 16h00, Estádio do Bessa Séc. XXI

sábado, 18 de setembro de 2010

Entrevista de Fonseca ao blog "Conversas Redondas"

Eis uma excelente entrevista do nosso "ex-artilheiro" Fonseca dada ao blog http://conversasredondas.blogspot.com/, onde além de outras questões aborda a sua passagem pelo Boavista...

Aos 25 anos, Diogo Fonseca, tem já um currículo de fazer inveja a muita gente. Santa Clara, V. Setúbal, Mallorca e mais recentemente Boavista, são alguns dos clubes que o ponta de lança açoriano, já representou.
Formado nas camadas jovens do U. Micaelense e do Santa Clara, chegou ao primeiro escalão ainda com idade júnior, estando em foco nas suas duas primeiras aparições entre os "Grandes".
Depois de algum "desaproveitamento" por parte do Santa Clara, rumou ao Setúbal, onde disputou a final da Taça de Portugal em 2006 e a Supertaça meses depois, ambos troféus perdidos para o FC Porto.
Seguiu-se depois um empréstimo ao Operário, e a mudança para Espanha em 07/08. Por terras de "nuestros hermanos" representou a equipa B do Mallorca e ainda o Granada, regressando a Portugal na temporada anterior, para representar o Boavista.
Depois de ser o melhor marcador dos axadrezados rumou ao Feirense, da Liga Orangina.
Em entrevista exclusiva ao "Conversas Redondas", Fonseca mantém a esperança de chegar à Selecção principal, e lamenta ainda o facto dos açorianos não acreditarem nos "seus" jogadores.
É ponta de lança.


Conversas Redondas (CR): Mudou-se das camadas jovens do U. Micaelense para o Santa Clara em 1999. Sentiu a mudança de um clube, teoricamente mais pequeno, para um clube que começava a dar os primeiros passos na I Divisão Nacional ?
Diogo Fonseca (DF): Não muito, porque era algo que já queria há algum tempo. Isto é, mudar-me para um clube onde pudesse ter uma hipótese de no futuro, seguir no futebol profissional.

CR: O Fonseca, não defradou as expectativas de quem havia apostado em si, e ainda com idade Júnior, foi lançado na equipa sénior, que competia na SuperLiga. Recorda-se do jogo da sua estreia no primeiro escalão, frente ao Gil Vicente ?
DF: Sim, tenho boas recordações desse jogo. Entrei em campo faltavam 15 minutos, e entrei bem, já que fiz a assistência para o golo do Bruno Ribeiro. Festejei, como se tivesse sido eu a marcar.

CR: Depois da estreia na 22ª Jornada, veio o golo na jornada seguinte, frente ao V. Guimarães. Como se sentiu, depois de marcar o seu primeiro golo na I Divisão, e ainda por cima, um golo que valeu três pontos ?
DF: Não poderia ter tido melhor estreia em casa, na minha própria terra. Quando entrei em campo, senti logo a esperança e a ilusão que a massa adepta santaclarense tinha em mim. Foram momentos muito bonitos.

CR: O Santa Clara, acabou por não conseguir evitar a despromoção no final da temporada, mas o Fonseca permaneceu no clube para 03/04. Não teve convites de clubes da I Divisão ?
DF: Na altura, estava a começar a ser convocado para a Selecção Sub-19, e estava a par do interesse de alguns clubes da Primeira Liga. Porém, o Santa Clara não permitiu a saída, afirmando que era uma aposta do futuro, coisa que nunca entendi, visto que joguei muito pouco nas temporaNegritodas seguintes.

CR: Seguiram-se duas temporadas pelo Santa Clara na Liga de Honra, com poucas oportunidades para jogar, e claro, poucos golos. Na sua opinião, o que "falhou" para não ter jogado com a regularidade que pretendia, especialmente na segunda temporada ?
DF: Como disse, nunca percebi o porquê. Mas sempre trabalhei no máximo e ninguém me pôde apontar nada. O meu ciclo no Santa Clara acabou no final do contrato, e não fui contactado pelo clube, nem para me dizerem que tinha sido dispensado. Para trás, tive o previlégio de trabalhar com Homens como Carlos Alberto Silva, Ricardo Formosinho, Francisco Agatão e Manuel Fernandes, estes dois últimos talvez os treinadores que mais me marcaram até à data. Manuel Fernandes, porque assumiu a minha promoção dos Júniores para os Seniores, e porque foi um enorme prazer ser treinado por um dos melhores pontas de lança da história do futebol português. Francisco Agatão, porque sempre confiou em mim e nas minhas qualidades. Se um dia vier a ganhar algum troféu como jogador, ele sem dúvida, teve muita influência nisso.

CR: Na temporada 05/06 mudou-se para o V. Setúbal. O Vitória era o detentor da Taça de Portugal, e ia participar nas competições europeias. Estes dois factores, além do clube histórico que é o V. Setúbal, e ainda o facto de poder voltar a jogar na I Divisão, tornaram mais fácil a aceitação do convite ?
DF: Cheguei pela mão de Ricardo Formosinho à equipa B do Vitória, muito por culpa de ter saído do Santa Clara pela "porta pequena". Mas, o meu pensamento sempre esteve em chegar o mais rápido à equipa principal. Foi algo que sempre quis. Saí dos Açores, porque me apercebi cedo que quem menos acreditava no meu valor, eram as pessoas da minha própria terra. Sempre foi assim, e sempre será até que surja alguém, que decida dar um pontapé no cepticismo em relação ao jogador açoriano.

CR: Apesar de não ter jogado na Europa, e de não ter marcado qualquer golo na SuperLiga, foi seu o golo que permitiu ao Setúbal vencer em Fafe, na 4ª Eliminatória da Taça de Portugal. Como foi marcar um golo, que acabou por ser decisivo para o futuro do Vitória na Taça ?
DF: Foi bom, poder contribuir para que o Vitória nesse ano, chegasse outra vez ao Jamor. Se calhar, gostaria de ter ajudado mais o clube noutras frentes, mas na realidade, não era dos jogadores mais utilizados.

CR: Nessa mesma edição da Taça, o Fonseca participou em mais três jogos. Se bem, que um deles é inesquecível. Falo, do jogo da final frente ao FC Porto, em que o Fonseca "saltou" do banco aos 81'. Pisar o Jamor, num jogo daqueles, e logo frente ao recém-Campeão é, presumo, uma enorme emoção e alegria.
DF: Foi um sonho tornado realidade. São emoções e sentimentos que me vão acompanhar para o resto da vida. Infelizmente, não ganhamos porque tivemos uma grande equipa pela frente. Mas como sou ambicioso, espero um dia voltar a pisar aquele palco.

CR: Pelo meio, foi presença assídua nos jogos da equipa B do Vitória na II Divisão B, onde conseguiu marcar cinco golos, incluíndo um "bis" ao Imortal. O Vitória apesar de utilizar vários jogadores da equipa principal, acabou por descer à III Divisão. Na sua opinião, porque razão o Setúbal B desceu de divisão, se utilizava semanalmente vários jogadores da "primeira" equipa ? Esses jogadores vinham desmoralizados, por terem de jogar na II Divisão B ?
DF: Acredito que talvez houvesse um pouco de desmoralização em alguns jogadores, mas sei que nunca houve falta de profissionalismo. Também é preciso lembrar que nessa altura, o Vitória tinha muitos problemas financeiros e estava em falta em vários meses para com os jogadores. Também a falta de entrosamento entre os jogadores, pode ter sido um factor desmoralizante. Acredito que se fosse hoje, noutras circunstâncias, o Setúbal B nunca teria descido de divisão, visto que só no último jogo se confirmou a descida.


CR: Continuou no Setúbal para 06/07, mas desta vez foi muito pouco utilizado. Apenas três jogos como suplente utilizado no primeiro escalão. Em Janeiro, optou por sair para o Operário dos Açores, de forma a poder jogar com mais regularidade, ficando ao mesmo tempo, mais perto de casa.
DF: Sim. Passava por uma situação económica dramática e decidi reorganizar a minha vida por seis meses, ao pé da minha família. Aí, entra em cena o "Mister" Agatão, que praticamente me ressuscitou para o futebol e recuperou a minha alegria de jogar futebol. Adorei todos os momentos naquele clube, e encontrei um dos melhores balneários (Miguel Lopes por exemplo, estava no Operário) onde já estive. Estou profundamente agradecido, a todas as pessoas que lá estavam porque foram as ÚNICAS na ilha, que acreditaram que o Fonseca não ficaria por ali.

CR: Depois de passagens intercaladas pela I Divisão e pela II Divisão B, assinou pelo Mallorca de Espanha. Como surgiu essa hipótese, de assinar contrato com um clube muito prestigiado em Espanha ?
DF: Foi através do empresário que me representava naquela altura. Já antes de ingressar no Operário, soube do interesse, mas não passou disso. No final da época, depois de me conformar que teria de ficar outro ano na ilha, surgiu essa oportunidade, e claro que não a poderia desperdiçar.

CR: Acabou por passar a temporada na equipa B do Mallorca, onde deu nas vistas, ao apontar 18 golos em 28 jogos. Mesmo assim, não jogou pela equipa principal. Alguma vez lhe explicaram o porquê de não ser aposta ?
DF: Não, nunca percebi. Ainda hoje, vejo muitos dos meus colegas da altura, que jogam e estão sendo aposta na presente temporada na equipa principal do Mallorca, e acredito que se tivesse tido uma oportunidade, talvez o meu trajecto actual seria outro. Às vezes, no futebol, joga-se muito mais fora de campo, e fuí vítima dos interesses dos bastidores. Mas, a minha personalidade não me permite ficar a "chorar" e ser coitadinho. Nunca desistirei. Sei que sou o orgulho da minha família e amigos, e isso é o mais importante para mim.

CR: A boa temporada ao serviço do Mallorca, abriu-lhe novas "portas" no futebol espanhol, e para 08/09, assinou com o Granada, da II Divisão B espanhola. No entanto, marcou poucos golos, saíndo no final da temporada. Que balanço faz da sua passagem pelo futebol espanhol ?
DF: Vivi muitas experiências. Positivas e negativas, naturalmente. Ajudou-me a crescer como Homem e como jogador. No primeiro ano em Mallorca, cresci muito como jogador; no segundo ano, em Granada, cresci muito como Homem.

CR: Depois de dois anos em Espanha, regressou a Portugal, e logo para um clube com grandes pergaminhos no nosso futebol. Como surgiu a hipótese de jogar no Boavista ?
DF: Já depois de ter travado uma dura batalha com o Mallorca, para chegar a um acordo para a rescisão do meu contrato, fechado o mercado de transferências, recebi uma chamada do Sr. Barbosa (antigo director-desportivo do Boavista) e decidi que não tinha nada a perder, apesar de muita gente me aconselhar a não ir para o Boavista, devido aos problemas do clube. Não me arrependi em nada.

CR: Quando chegou ao clube, a situação era tão "caótica" como as pessoas falavam, ou o Boavista dava claros sinais de melhorias ?
DF: Realmente, a situação era difícil, mas com a união do grupo de trabalho e o esforço que as pessoas na parte directiva, fizeram para que o clube pudesse ser inscrito, foi uma boa base para a temporada difícil e sofrida que viemos a ter. Só com um grupo forte, foi possível alcançarmos a manutenção.

CR: Alheio aos problemas do Boavista fora das quatro linhas, o Fonseca conseguiu ser o melhor marcador da equipa, ao apontar 11 golos em 26 jogos. Isto, fez de sí um ídolo para os adeptos do Boavista, como já tive oportunidade de constatar. Sente-se honrado por se ter tornado numa das grandes referências dos adeptos "axadrezados" ?
DF: Cheguei ao Boavista, com o intuito de relançar a minha carreira, e apesar dos problemas do clube, o Boavista será sempre um grande clube. Digam o que disserem, é um clube diferente, com uma massa adepta diferente. Com o passar do tempo, fui aprendendo a gostar e a perceber a mística através das pessoas que lá estão. Um clube, onde se formaram alguns dos melhores jogadores portugueses nos últimos tempos e alguns da actualidade. O meu objectivo, sempre foi ajudar a levantar o clube, juntamente com os meus companheiros, e se pelo meio ganhei o respeito e a admiração dos adeptos boavisteiros, fico muito contente que assim seja, e agradeço todo o apoio que tive durante a época. Mas, realmente, eu não teria sido aquilo que fui, sem os meus companheiros. Fico agradecido ao Boavista, porque foi o clube que confiou em mim, quando mais ninguém confiava.

CR: Depois de uma boa temporada na II Divisão Nacional, teve vários convites, mas optou pelo Feirense. Porquê essa opção ?
DF: Foi a melhor oferta que tive no defeso, também pela estabilidade económica que o clube oferece para o meu futuro, que é muito importante. Foi difícil para mim deixar o Boavista, pelo carinho que tenho pelas pessoas de lá, mas o meu futuro imediato teria que passar por um clube onde possa dar continuidade à boa época que fiz no ano passado e que me dê estabilidade económica, algo que, infelizmente, o Boavista não me pode oferecer de momento. Gostaria, isso sim, de poder vestir de novo o "xadrez" no futuro.

CR: Quais os objectivos do Feirense para a temporada 2010/2011 ? Depois da prestação da temporada passada, arrisco-me a dizer que o grande objectivo vai ser lutar pela subida.
DF: O clube, fez um investimento inferior à época passada, mas a ambição está redobrada. Acredito, que podemos formar uma boa equipa e lutar pela subida até ao fim num campeonato difícil. Mas, o nosso pensamento, terá de ser jogo-a-jogo.

CR: E o Fonseca, que objectivos tem para esta temporada ? Superar os 11 golos de 09/10, é um dos objectivos estabelecidos ?
DF: Quero dar seguimento ao que fiz na temporada passada. Sou ambicioso e não desisto da primeira. Sei que tenho qualidades, para estar mais acima no panorama do futebol português, e vou tentar agarrar todas as oportunidades que surgirem, para apresentar trabalho e golos. Não gosto de fixar número de golos, mas claramente, espero fazer algo igual ou superior à época passada.

CR: Tem várias internacionalizações pelas selecções jovens, e ainda é novo. Continua a manter a esperança de chegar à Selecção A ? Ainda por cima, na sua posição, Portugal ultimamente não tem tido grandes referências e viu-se "obrigado" a naturalizar Liedson...
DF: Sou ambicioso, e gostaria um dia de jogar novamente pela Selecção. Mas sou realista, e não vivo obcecado com isso. Mas acredito, que o País tem matéria-prima suficiente, para não ter que naturalizar ninguém.Questões rápidas.

CR: Sendo o Fonseca ponta de lança, não posso deixar de lhe fazer esta pergunta: Melhor golo da carreira ?
DF: Todos os golos são importantes para mim. Não há grandes golos. Há o golo que passa a linha final, uns mais importantes que outros, é claro. Posso dizer que o golo que nunca esquecerei, foi o da minha estreia na 1ª Liga nos Açores, contra o Guimarães.

CR: Em grande parte dos clubes que representou, utilizou sempre a camisola 47. Por que razão usa constantemente a camisola 47 ? É superstição ?
DF: O número 47, significa uma vontade e ambição em conseguir o seu objectivo de qualquer maneira, inNegritodependentemente dos obstáculos que se atravessem no meio. Adicionando também 4+7 dá 11, que significa o poder de um guerreiro. Pode-se dizer que sim, que sou supersticioso.

CR: Ao longo da sua carreira, já trabalhou ao lado de jogadores com "nome" no futebol português, como Jorge Silva, Sandro ou Sérgio Nunes. Algum destes ou outro colega, o marcou de uma maneira "especial" ?
DF: Jorge Silva, pela sua liderança e capacidade motivacional.

CR: Em Setúbal, jogou com Silvestre Varela. Já naquela altura, se percebia que o Varela tinha tudo para triunfar numa grande equipa como o Sporting ? Ou, neste caso, como o FC Porto...
DF: Há talentos que não enganam, e o Varela já no Vitória demonstrava o grande jogador que é. Na minha opinião, é o jogador com mais talento, que o Sporting conseguiu formar depois de Futre, Figo e Ronaldo. O tempo encarregar-se-á de o confirmar, para tristeza dos adeptos leoninos.

CR: É capaz de eleger um onze formado por companheiros de equipa (Actuais ou Passados) ?
DF: Guarda-Redes: Hugo Ferreira (Mallorca)
Defesa Direito: Ribeiro (Boavista)
Defesa Central de Marcação: Kali (Santa Clara)
Defesa Central Livre: Jorge Silva (Boavista)
Defesa Esquerdo: Bruno Ribeiro (Santa Clara e V. Setúbal)
Médio Direito: Paulo Campos (Boavista)
Médio Centro: Ariel Ibagaza (Mallorca)
Médio Centro: Pacheco (Santa Clara)
Médio Esquerdo: Garba Lawal (Santa Clara)
Ponta de Lança: Brandão (Santa Clara)
Ponta de Lança: Emilio N'Sue (Mallorca)


*Entre parêntesis, o clube onde Fonseca jogou com o respectivo colega.
TODOS OS CRÉDITOS DESTA ENTREVISTA AO BLOG "CONVERSAS REDONDAS"