4ª Jornada, Boavista vs Amarante, Sábado, 28 de Setembro, 16h00, Estádio do Bessa Séc. XXI

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Rémulo Marques (Director Desportivo)

O que levou a trocar o jornalismo pelo futebol?
No fundo acho que nunca deixei o futebol. Porque fui praticante, porque convivi sempre de muito perto com o “fenómeno”, fosse como jornalista, fosse como autor de várias obras em que o futebol foi sempre o pano de fundo. No entanto, nesta altura da vida, a principal razão para deixar o Porto Canal e abraçar este desafio foi sentir que poderia, de alguma forma, contribuir, ser mais um a ajudar o Boavista a encontrar um caminho ascendente. Um caminho que faça, pelo menos, com que todos os boavisteiros acreditem que não só é justo, como é possível sonhar com um Boavista no lugar em que merece. Entre os grandes.


O Boavista é um projecto aliciante?
O Boavista é muito mais que um projecto. É algo que se entranha. Passa a ser, dia após dia, um sentimento. Vou usar um lugar comum, mas que é bem verdade. Só quem vive por dentro é que pode explicar como é. Só quem viver por dentro é que sabe as dificuldades, os inacreditáveis obstáculos que nos colocam. Sou sincero... Quando via o Boavista de “fora”, ou até com um olhar “jornalístico”, tinha a tendência de pensar que nesta casa se tinha enraizado a teoria dos “coitadinhos”, a teoria dos “perseguidos”. Porém, agora que sinto na pele, acho até, sinceramente, que os adeptos, os sócios, foram e são muito comedidos com o que fizeram a este clube.... E que, em vários fins-de-semana, nos continuam a fazer. A título de exemplo posso, e devo, dizer que já encontrei até um árbitro que não teve qualquer problema em dizer-me e a alguns jogadores que o Boavista lhe metia nojo. Está tudo dito, não?


O facto de ser familiar de uma grande figura do Boavista, é uma coincidência?
Não, não é uma coincidência. O facto de ser primo do Petit fez com que vivesse sempre de muito perto o dia-a-dia do Boavista, nos bons e nos maus momentos, ao longo de praticamente toda a minha vida. Até porque, como é sabido, o Petit veio para esta casa criança e só saiu já homem feito e, orgulhosamente, campeão nacional. Aliás, ainda hoje converso quase todos os dias com ele sobre o clube. É algo que lhe diz muito e é ele uma das pessoas que me vai dando sempre força para tentar, dentro das minhas possibilidades, potenciar a marca, a grande marca e instituição que é o Boavista FC. Não tenho dúvidas de que o Petit não deixará o mundo do futebol sem voltar a servir o Boavista de uma forma mais directa. Ele ama esta casa e é um boavisteiro de coração e a história dele no clube, de perseverança, de vontade de vencer vestido de xadrez, é algo que utilizo muitas vezes como exemplo para os actuais jogadores.


Ao cabo de 12 jornadas, qual é o seu balanço do trabalho desenvolvido?
Independentemente da derrota com o Padroense que, sinceramente, doeu bastante, estamos e, não tenho dúvidas, vamos estar na luta pelos primeiros lugares. Com a tal equipa de “velhos que ninguém queria” ou de” jogadores sem currículo” como vi escrito por aí em alguns blogues dos famosos “bota-abaixo”. Os verdadeiros adeptos do Boavista gostam, fundamentalmente, de ver o clube a ganhar e já viram, certamente, que este plantel é, sem sombra de dúvida, um dos melhores deste escalão. Por outro lado, ultrapassada que foi a fase da “pré-época” em competição (relembro que fomos a equipa com menos tempo de treino de toda a 2ª Divisão), estamos a jogar à Boavista, com garra, com espírito de sacrifício. A isto junta-se uma forte aposta na formação, com a inclusão no plantel de jogadores criados na casa como o Nelo, Diogo Leite, Baptista, Fabinho, Nuninho, Ruizinho e Diogo Teixeira, a recuperação dos “valores” do Boavistão da 1ª Liga – com o regresso do Mário Loja, por exemplo, e ainda o facto de estarmos a trabalhar para que alguns dos nossos jogadores se venham a transformar em mais-valias financeiras para o clube. É um trabalho árduo mas que começa a dar frutos. Isto, claro, para quem quer ver, porque há aqueles que preferem sempre “mal-dizer”... Mas, falar nos cafés é muito fácil. Difícil é contribuir. Difícil é trabalhar, dia-a-dia, 12 a 16 horas por dia, para que o Boavista volte, pelo menos, a ser respeitado como merece.


Agora que está do lado “de dentro” do futebol português, quais são as primeiras conclusões...
Como referi numa das questões anteriores, há certas coisas que têm de se viver, que têm de se ver ao vivo, para se acreditar. Eu sabia, sempre o soube, que a realidade numa 2ª Divisão deveria de estar longe de ser satisfatória, mas o que encontrei foi muito pior do que a esmagadora maioria das pessoas e dos “chicos-espertos” do nosso futebol pensam. Campos medíocres, sem as condições mínimas de segurança e, sequer, para receber um jogo de um campeonato nacional (veja-se o caso do Sertanense, onde temos fotos e vídeos para o comprovar), um verdadeiro abuso, para não dizer algo pior, da parte dos clubes nos preços que praticam sem serem punidos ou regulamentados devidamente e, pior de tudo, arbitragens a roçar o ridículo. Em 12 jornadas penso que tivemos seis arbitragens isentas. E dessas quatro, empatámos um jogo e perdemos outro, por isso, estou à vontade nesta análise. É um amadorismo geral e sem “rei, nem roque”. Mas, não sou de me esconder atrás de desculpas. Ser do Boavista é saber, de antemão, que temos de dar 110% para chegar onde equipas que em 8 das 12 jornadas acabaram a jogar contra 10 ou 9 adversários.