Quis o sorteio da Taça de Portugal que duas equipas com história no futebol nacional, que hoje vivem situações difíceis e competem fora das divisões profissionais se cruzassem logo na primeira eliminatória.
Um União de Leiria x Boavista nunca foi jogo para uma primeira eliminatória da prova rainha do futebol português. Nunca o foi porque nesta fase apenas entram os clubes da segunda e terceira divisão e tanto os da cidade do Lis como os nortenhos sempre habituaram os respetivos adeptos e todos os amantes do futebol a vê-los nos escalões profissionais.
De resto, na década passada o Boavista foi campeão nacional pela primeira vez na sua história, foi presença assídua nas competições europeias e chegou a ser semifinalista da Taça UEFA em 2002/2003, perdendo o passaporte para a final de Sevilha no Estádio do Bessa frente ao Celtic Glasgow. Como curiosidade, os axadrezados têm exatamente 100 jogos nas competições internacionais do velho continente.
Por sua vez, o União de Leiria disputou a Taça UEFA também na última década, chegou à final da Taça de Portugalem 2002/2003, permitiu a José Mourinho mostrar-se antes de ingressar no FC Porto e, por exemplo, no plano das transferências vendeu dois jogadores que foram fundamentais na carreira épica do FC Porto de Mourinho: Nuno Valente e Derlei.
Hoje a realidade é bem diferente. O União de Leiria, que na última época deixou de jogar na sua cidade, desceu do principal escalão diretamente para a segunda divisão (antes denominada segunda B) por não ter condições de inscrever a equipa na segunda Liga (antes denominada Liga de Honra). Pior que isso, os leirienses passaram por uma greve durante a temporada passada e chegaram mesmo a entrar em campo com apenas oito jogadores num jogo frente ao Feirense. Devido à greve por causa dos inúmeros salários em atraso no plantel, não havia futebolistas para mais porque a maioria rescindiu o contrato unilateralmente.
O Boavista desceu à segunda Liga por causa da condenação no processo «Apito Final» e continua à procura de justiça na barra dos tribunais. A despromoção à segunda divisão, contudo, aconteceu desportivamente no ano seguinte ao ter sido enviado para segunda Liga e agora procura relançar-se no futebol português.
Costinha: «É irreal o que se passa com União de Leiria e Boavista»
Paulo Costinha é um nome ligado ao União de Leiria e Boavista. Nos leirienses foi guarda-redes durante seis temporadas e nos boavisteiros foi onde fez parte da formação e subiu a sénior com apenas 17 anos.
«Vivi grandes momentos no União de Leiria e ainda hoje vivo em Leiria. Passei excelentes momentos aqui, desde ir à final da Taça de Portugal até às competições europeias», afirma o ex-guarda-redes, em conversa com ozerozero.pt, lembrando de seguida os tempos no Bessa.
«No Boavista passei muitos bons momentos porque cheguei lá com apenas 14 anos. Subi a sénior quando ia fazer 17. Não me esqueço do bom ambiente que havia no clube, a amizade e o convívio. Ainda era um miúdo, tanto eu como o João Pinto, e tinha jogadores de 30 e tal anos, como o Carlos Manuel, o Frederico, o Venâncio ou o Alfredo. Logo no primeiro ano ganhei a Taça de Portugal e a Supertaça», recorda.
«Foram momentos especiais que passei nos clubes e que agora uma pessoa olha para trás vê-os na situação em que estão. É triste ver nesta situação um Boavista que chegou a ser campeão nacional e que andou nas competições europeias, assim como um União de Leiria que também esteve na Europa. Não sei se foi má gestão ou falta de organização. As pessoas que estiveram à frente dos clubes é que são responsáveis. Nós, jogadores de futebol, desviamo-nos um bocado das situações porque o nosso trabalho é treinar e fazer o melhor pelo clube onde estamos», acrescenta.
Este domingo vai estar atento ao resultado do União de Leiria x Boavista. Mas não era na Taça de Portugal, ou pelo menos nesta fase precoce da competição, que Costinha queria ver as duas equipas a medir forças.
«União de Leiria e Boavista são duas equipas que se estivessem na primeira Liga vinham dar mais qualidade ao futebol português. É irreal o que se está a passar».